Venezuela aprofunda dependência de stablecoins em meio à crise econômica e colapso bancário
Relatório aponta que ativos digitais já funcionam como substitutos do sistema financeiro tradicional para milhões de venezuelanos
A população da Venezuela já depende amplamente da tecnologia blockchain para realizar operações financeiras básicas, e essa dependência tende a crescer caso o cenário econômico do país continue se deteriorando. A avaliação é da empresa de inteligência em blockchain TRM Labs, que analisou o avanço do uso de criptoativos em meio à instabilidade macroeconômica e institucional venezuelana.
Segundo o relatório divulgado nesta quinta-feira, o agravamento das tensões regionais e geopolíticas, incluindo o impasse entre Estados Unidos e Venezuela, tem ampliado a pressão sobre a economia local. A contínua desvalorização do bolívar, combinada com inflação persistente e fragilidade do sistema bancário, deve impulsionar ainda mais a demanda por stablecoins, tanto como reserva de valor quanto como meio de troca.
De acordo com a TRM Labs, a falta de clareza regulatória e a incerteza em torno da atuação da SUNACRIP, órgão regulador cripto do país, também contribuem para o cenário. A fragilidade da autoridade de fiscalização e a erosão da confiança nos bancos tradicionais prolongam a dependência da população em relação aos ativos digitais.
“Na ausência de uma mudança material nas condições macroeconômicas da Venezuela ou do surgimento de uma supervisão regulatória coesa, o papel dos ativos digitais — especialmente das stablecoins — tende a se expandir”, afirmou a equipe da TRM Labs.
Stablecoins substituem o sistema bancário
Apesar de ocupar a 18ª posição global em adoção de criptomoedas, segundo o Índice Global de Adoção Cripto 2025 da Chainalysis, a Venezuela sobe para o 9º lugar quando os dados são ajustados proporcionalmente à população, evidenciando a intensidade do uso no cotidiano.
O relatório aponta que as transações peer-to-peer (P2P) e as conversões entre USDT e moeda fiduciária se tornaram serviços essenciais para os venezuelanos, em um contexto de acesso limitado a canais bancários confiáveis. A TRM Labs identificou que mais de 38% dos acessos originados de endereços IP do país se concentram em uma única plataforma global de P2P, destacando seu papel central em um ambiente de baixa bancarização.
“Uma parcela significativa das operações cripto–fiat ocorre por meio de plataformas que utilizam trilhos informais de liquidação, mesmo diante de relatos de interrupções ocasionais no serviço”, destacou o relatório.
Além das plataformas globais, soluções locais também exercem papel relevante, especialmente aquelas que oferecem carteiras móveis e integração com bancos domésticos, adaptadas à realidade dos usuários venezuelanos.
Uso por necessidade, não por especulação
Segundo a TRM Labs, o ecossistema cripto da Venezuela não surgiu por inovação espontânea, mas como resultado direto de quase uma década de colapso econômico, sanções internacionais e tentativas do próprio Estado de implementar alternativas financeiras digitais.
As stablecoins — especialmente o USDT — assumiram um papel central em transações domésticas e comerciais. Apesar de preocupações internacionais relacionadas a compliance e evasão de sanções, o relatório ressalta que o uso desses ativos no país é majoritariamente motivado por necessidade, e não por especulação ou atividades ilícitas.
“Para a maioria dos venezuelanos, as stablecoins funcionam hoje como um substituto do sistema bancário de varejo, viabilizando pagamento de salários, remessas familiares, pagamentos a fornecedores e compras internacionais, diante da ausência de serviços financeiros domésticos consistentes”, conclui o estudo.
O caso venezuelano reforça a narrativa de que, em ambientes de colapso monetário e institucional, as criptomoedas deixam de ser um instrumento de investimento e passam a atuar como infraestrutura financeira de sobrevivência.
Fonte: TRM Labs / Cointelegraph
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