Telecomunicações no Brasil: Sem Pista, Sem Regras e Sem Experiência – Para Onde Vamos?
O setor de telecomunicações brasileiro, como boa parte do mundo, chegou a um ponto de inflexão. A era de competir por mais megas e gigas está morta. O cliente já não se impressiona com números, e o mercado, saturado de soluções superficiais, exige uma reinvenção completa. Mas, no Brasil, o cenário é ainda mais complexo. Além da necessidade de transformação global, enfrentamos uma guerra interna: desvalorização do real, concorrência desleal, regulamentação caótica e práticas predatórias que ameaçam a sustentabilidade do setor.
A Saturação do Mercado de Banda Larga
As estatísticas falam por si: até 2025, o ARPU (Receita Média por Usuário) global de banda larga fixa deve crescer irrisórios US$ 0,01. Isso é um aviso claro de que insistir em vender velocidade não levará o setor a lugar algum. No Brasil, onde a infraestrutura enfrenta limitações ainda maiores e os custos de operação sobem com a desvalorização do real, a situação é crítica.
Provedores regionais, que respondem por grande parte da cobertura de internet no interior, sentem isso na pele. Com margens apertadas e consumidores saturados de promessas vazias, o desafio é criar valor real – mas isso é impossível quando o próprio mercado opera sem regras claras.
A Realidade no Brasil: Concorrência Desleal e Caos Regulatório
O Brasil adiciona uma camada extra de complexidade ao cenário global. De um lado, grandes operadoras e provedores regionais lutam para se manter competitivos. De outro, uma legião de provedores clandestinos e práticas ilegais, como o “gatonet”, comprometem a saúde do mercado. E não para por aí. A falta de regulamentação eficiente para o uso compartilhado de postes é outro entrave que sufoca provedores legais.
A Neoenergia Coelba, por exemplo, tem sido alvo de críticas por impor condições abusivas e prazos inviáveis para regularização, além de cobrar valores exorbitantes para o uso de infraestrutura. Operações como a “Rede Legal”, que deveria combater ocupações irregulares, frequentemente penalizam empresas em processo de regularização, enquanto os clandestinos continuam a prosperar.
É nesse cenário que o SEINESBA (Sindicato das Empresas de Internet do Estado da Bahia) luta para proteger os provedores regionais. Entre ações judiciais e negociações com a Coelba, o sindicato tenta equilibrar um campo de jogo completamente desigual.
O Fim da Era da Velocidade: O Que Fazer Agora?
O futuro do setor de telecomunicações no Brasil não está na competição por velocidade. A transformação exige uma mudança de mentalidade e de estratégia. Aqui estão os pilares para essa nova era:
1. Super Bundling: Em vez de competir por preço, as operadoras precisam agregar valor real. Consolide serviços como streaming, automação residencial e segurança digital em pacotes únicos, que simplifiquem a vida do cliente e aumentem a lealdade.
2. Micro Data Centers: Parcerias com construtoras podem levar datacenters para os próprios edifícios residenciais, criando hubs de computação de ponta que impulsionam a automação doméstica e geram novas receitas.
3. Foco em Experiência e Confiabilidade: De que adianta 1 Gbps se o suporte é lento ou o serviço é instável? Investir em atendimento e em estabilidade será essencial para fidelizar clientes em um mercado cada vez mais exigente.
4. Uso Inteligente de Dados: Operadoras têm acesso a um verdadeiro tesouro: os dados de uso dos clientes. Utilizar essas informações para oferecer pacotes personalizados e experiências adaptadas ao comportamento do consumidor será um diferencial competitivo crucial.
O Papel do SEINESBA: Defender para Transformar
Na Bahia, o SEINESBA tem se posicionado como a voz dos provedores regionais. O sindicato não só enfrenta questões como o uso de postes e a concorrência desleal, mas também atua como um catalisador para a modernização do setor. A meta é clara: permitir que provedores locais sejam não apenas competitivos, mas também inovadores.
Com a força de sindicatos como o SEINESBA, é possível vislumbrar um futuro onde provedores de internet deixem de ser vistos como meros distribuidores de infraestrutura e se tornem verdadeiros facilitadores de experiências digitais. Mas, para isso, é necessário vontade política, regulamentação justa e compromisso com a legalidade.
Conclusão: Um Setor em Transformação
O setor de telecomunicações está ficando sem pista – e no Brasil, essa pista está cheia de buracos. Chegamos ao limite do que a infraestrutura e o modelo atual podem oferecer. Para sobreviver e prosperar, as empresas precisam abandonar o velho jogo de competir por gigas e preços e focar naquilo que realmente importa: experiência, confiabilidade e valor agregado.
Sem isso, o futuro será apenas uma repetição do presente – um mercado travado, desleal e incapaz de entregar a conexão que o Brasil precisa para crescer.



