🇮🇱 O Triângulo da Espionagem: Pegasus, Cellebrite e FirstMile — Quando o Estado Invade o Seu Bolso e o Seu Celular
Por trás das cortinas diplomáticas, entre promessas de segurança nacional e supostos combates ao crime, governos ao redor do mundo — incluindo o Brasil — estão, na prática, montando uma teia de vigilância que beira o totalitarismo digital. No centro dessa rede? Três nomes que você precisa conhecer: Pegasus, Cellebrite e FirstMile, todos com o mesmo DNA — tecnologia israelense, criada sob o pretexto da segurança, mas que rapidamente se transforma em arma política.
🕵️♂️ Pegasus: O Espião que Nem Precisa de Convite
Criado pela NSO Group, o Pegasus é o pesadelo de quem acredita em privacidade. Diferente dos filmes de espião, aqui não precisa grampo, nem senha, nem mandado. O software invade seu celular sem que você sequer toque na tela. Acessa suas mensagens, fotos, localização e até o microfone — em tempo real. Zero clique, zero defesa para o cidadão comum.
E não pense que isso é teoria da conspiração. O Projeto Pegasus, revelado em 2021, expôs o jogo sujo: jornalistas, ativistas e até chefes de Estado de países democráticos estavam na lista de alvos. O Brasil? Presente na lista. E embora o governo Bolsonaro tenha tentado comprar o spyware por 20 milhões de dólares, a pressão pública e o Tribunal de Contas da União barraram o negócio — oficialmente. Extraoficialmente? Ninguém sabe o que se testou por baixo dos panos.
Israel lucra, governos abusam, e a população… bem, continua achando que o maior perigo está no roubo de senha de Wi-Fi.
🔓 Cellebrite: Quando a Polícia Precisa da Sua Senha, Mas Não Espera Você Digitar
Outra criação israelense, o Cellebrite UFED se vende como “ferramenta forense”, mas na prática é o aríete digital dos governos. Conecta-se ao seu celular, quebra senhas, descriptografa arquivos e extrai dados — fotos, mensagens, vídeos, tudo — mesmo que você tenha apagado.
No Brasil, virou figurinha carimbada: PF usou na Lava Jato, em casos de feminicídio, e mais recentemente no caso Vitória Regina, em São Paulo. Parece bonito no papel, afinal, quem não quer justiça? O problema? O Cellebrite também já foi usado por regimes autoritários para perseguir opositores e jornalistas. E seus próprios relatórios, uma vez comprometidos por falhas técnicas, colocam em xeque as condenações baseadas nessas “provas digitais”.
Se você ainda acredita que só “quem deve, teme”, cuidado: hoje o Cellebrite quebra o sigilo de bandidos. Amanhã, de quem discorda do governo.
📡 FirstMile: O GPS que Transforma Cada Brasileiro em Alvo
O FirstMile, da Cognyte (ex-Verint), é o mais sorrateiro. Não precisa instalar nada no seu celular. Ele opera pelas rachaduras das redes de telefonia, explorando vulnerabilidades do protocolo SS7 — aquele mesmo sistema ultrapassado que transporta suas chamadas e SMS.
Você pode estar em casa, no trabalho ou viajando. Se alguém com acesso ao FirstMile quiser saber onde você está, saberá. E se for o Estado, pior: saberá sem mandado judicial, sem prestação de contas, sem você perceber.
E aconteceu no Brasil: a Abin, em 2018, gastou quase 6 milhões de reais com essa tecnologia. O resultado? Escândalo nacional. Políticos, jornalistas e até ministros do STF, como Alexandre de Moraes, foram monitorados ilegalmente. Tudo sob o pretexto da “segurança nacional”, enquanto dados sensíveis eram enviados diretamente para servidores em Israel.
🚨 A Pergunta que Ninguém Quer Responder
Até onde vai o discurso de segurança antes de virar autoritarismo? Pegasus, Cellebrite e FirstMile são apenas ferramentas — o perigo mora em quem as usa e como as usa. Em países sérios, com fiscalização real, ainda há algum controle. Em democracias capengas como o Brasil? É o paraíso dos abusos.
E para o cidadão comum, resta a ilusão de que “não tendo nada a esconder, não há o que temer”. Triste engano. Quem controla sua câmera, seus áudios e seus passos, controla sua liberdade.
Se você ainda acha que estamos longe de um Estado policialesco digital, talvez seja hora de atualizar o sistema — o seu, não o do celular.



