Diário Crypto — 19 de dezembro de 2025
Por que o mercado cripto não reage mesmo com CPI favorável
O mercado de criptomoedas encerra o dia em modo defensivo, apesar de manchetes macroeconômicas que, em outros momentos, teriam impulsionado os preços. O dado de inflação dos Estados Unidos veio significativamente abaixo do esperado, o que inicialmente animou os mercados tradicionais. No entanto, no universo cripto, o efeito foi rápido e efêmero, com o Bitcoin incapaz de sustentar ganhos e as altcoins permanecendo travadas.
A leitura dominante hoje é clara: boas notícias não estão sendo suficientes para superar problemas estruturais de oferta, demanda e confiança.
Cenário Global: CPI bom, mas sob suspeita
Nos Estados Unidos, o índice de preços ao consumidor surpreendeu positivamente, ficando bem abaixo das projeções. A reação inicial foi de alívio nos mercados acionários, com recuperação após dias de queda. Bitcoin e Ethereum chegaram a reagir, mas perderam força rapidamente.
O motivo central foi a desconfiança sobre a qualidade do dado. Parte do mercado questiona ajustes estatísticos feitos devido à ausência de informações completas em meses anteriores, o que reduziu a disposição dos investidores em assumir risco com base apenas nesse indicador. Em resumo, o CPI foi bom, mas não convincente o suficiente para mudar o comportamento do mercado.
Ao mesmo tempo, o Banco do Japão elevou sua taxa de juros para o maior nível em cerca de 30 anos, reforçando um ambiente global menos favorável a ativos de risco. Esse movimento enfraquece a narrativa de “liquidez fácil” e adiciona pressão sobre mercados mais especulativos, como o cripto.
Bitcoin: oferta pesada e demanda enfraquecida
O Bitcoin segue negociando com dificuldade, incapaz de sustentar movimentos de alta. Após tocar níveis mais elevados, o preço rapidamente recuou, reforçando a sensação de fragilidade do mercado.
Os dados indicam três fatores principais por trás dessa fraqueza:
Venda consistente de holders de longo prazo
Grandes volumes de Bitcoin que estavam parados há anos voltaram à circulação. Somente em 2025, centenas de bilhões de dólares em BTC retornaram ao mercado, criando uma pressão de venda constante.Demanda abaixo da tendência histórica
Desde o início de outubro, a demanda spot vem se mantendo abaixo da média, o que reduz a capacidade do mercado de absorver essa oferta adicional.Fluxos negativos em ETFs
Os ETFs de Bitcoin, que anteriormente funcionavam como um importante suporte de compra, têm registrado entradas fracas ou saídas líquidas. Dias positivos existem, mas ainda são insuficientes para reverter o quadro.
O resultado é um mercado onde cada tentativa de recuperação encontra vendedores esperando apenas uma oportunidade para sair no zero a zero, especialmente entre investidores que compraram em faixas mais altas de preço.
Altcoins seguem reféns do Bitcoin
O comportamento das altcoins reflete diretamente a indecisão do Bitcoin. Sem uma direção clara do ativo principal, os movimentos em altcoins são curtos, inconsistentes e frequentemente enganosos.
O mercado observa dois níveis-chave no Bitcoin:
Um suporte crítico que, se perdido, tende a aumentar rapidamente a aversão ao risco.
Uma região acima do custo médio de holders de curto prazo, que só sendo recuperada permitiria um movimento mais sustentável de alta.
Enquanto o Bitcoin permanecer preso nesse intervalo, as altcoins continuam “na coleira”, com ralis pontuais sem continuidade.
Sentimento de mercado: medo em alta
O sentimento predominante hoje é de cautela e frustração. Após uma sequência de rejeições em movimentos de alta, o discurso negativo voltou a dominar. Historicamente, esse ambiente pode anteceder mudanças importantes, mas, no curto prazo, ele reforça a postura defensiva.
Além disso, o período de fim de ano traz liquidez reduzida, o que aumenta a volatilidade e torna os movimentos mais bruscos, tanto para cima quanto para baixo.
Seção Brasil
O mercado financeiro brasileiro opera com leve otimismo nesta sexta-feira. O Ibovespa avança de forma moderada, sustentado por ações de peso como Embraer, após o sucesso do primeiro voo do protótipo do carro voador da Eve Air Mobility, além de Vale e Petrobras. Bancos como Itaú e Bradesco também contribuem para o desempenho positivo.
O dólar comercial apresenta volatilidade, mas com leve queda, girando em torno de R$ 5,51 a R$ 5,52, beneficiado pelo recuo dos juros futuros. O cenário externo misto e a expectativa em torno do Orçamento de 2026 mantêm o mercado atento aos riscos fiscais.
Apesar do bom desempenho pontual da bolsa, o pano de fundo segue desafiador: juros elevados, incerteza política com a aproximação das eleições de 2026 e preocupações fiscais continuam limitando movimentos mais fortes de valorização dos ativos brasileiros.
Seção Paraguai
O Paraguai vive um momento histórico de consolidação econômica. A elevação da nota de crédito soberano pelo Standard & Poor’s, garantindo ao país seu segundo grau de investimento, reforça a percepção internacional de solidez macroeconômica.
Com inflação controlada, dívida pública baixa em relação ao PIB e projeções de crescimento robusto para 2025, o país se destaca como um dos mercados mais estáveis da América Latina. O impacto esperado inclui acesso a capital mais barato, maior interesse de investidores institucionais e fortalecimento do mercado de capitais local.
O guarani mantém trajetória de estabilidade e valorização relativa, enquanto o sistema bancário segue sólido, acompanhando o aumento da demanda por crédito para consumo e investimento. Apesar de desafios estruturais, como informalidade e dependência de commodities, o Paraguai entra em 2026 bem posicionado para continuar atraindo capital e diversificando sua economia.
Conclusão
O dia deixa uma mensagem clara para o mercado cripto: não basta um bom dado isolado. Com juros globais elevados, questionamentos sobre indicadores macro e uma oferta pesada de Bitcoin encontrando demanda enfraquecida, o mercado permanece em compasso de espera. Até que a pressão vendedora diminua e os fluxos voltem de forma consistente, a cautela seguirá sendo a palavra de ordem.
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