Diário Crypto – 1º de Dezembro de 2025
Por que o dump do Bitcoin parece mais um shakeout do que um colapso
Visão Geral: um começo de dezembro com cara de teste de nervos
Dezembro começou com um tapa na cara do mercado cripto.
Depois de um fechamento mensal fraco, o Bitcoin escorregou rapidamente cerca de 5% em um ambiente de liquidez rala, coincidindo com o momento em que o ciclo de aperto quantitativo (QT) começa a perder força.
A fotografia de mercado é clara: no painel das 100 maiores criptos, o vermelho domina. A maior parte das altcoins registra quedas de um ou dois dígitos, com raríssimas exceções em território positivo. É o típico quadro de risk-off: correção rápida, liquidez sumindo da tela e realização forçada em posições alavancadas.
Apesar do clima de caos, a leitura estrutural do ciclo permanece intacta. O movimento tem muito mais cara de shakeout – uma limpeza de posições frágeis – do que de fim de ciclo.
O que realmente moveu o mercado
1. Fluxos forçados e liquidações em cascata
Por trás da queda rápida, os dados de derivativos mostram um padrão clássico de desmontagem mecânica de alavancagem:
Clusters de liquidação de posições compradas foram acionados em janela curta, à medida que o preço acelerava a queda.
Dados de plataformas de monitoramento de derivativos apontam picos de liquidação que sugerem reposicionamento automático, e não uma onda coordenada de vendedores à vista.
Market makers recuaram, deixando os livros mais rasos; com isso, ordens relativamente pequenas ganharam impacto desproporcional no preço.
Em paralelo, o fim de mês trouxe seu habitual rebalanceamento de carteiras institucionais, amplificando o movimento em um momento em que a profundidade de mercado já era fraca.
2. Macro em ebulição: Japão, Fed e agenda de dezembro
O gatilho macro mais sensível veio do lugar mais improvável para muitos traders de varejo: o Japão.
A imprensa local passou a ventilar a possibilidade de que o Banco do Japão eleve juros na reunião de 19 de dezembro, algo raro após décadas de política ultraexpansionista.
Swaps de juros em ienes começaram a precificar níveis de yield próximos aos do período pré-crise de 2008.
Isso atinge em cheio o famoso yen carry trade – um dos motores silenciosos de liquidez global. Qualquer ruído de mudança nessa engrenagem costuma provocar hedge agressivo em ativos de maior beta, como criptomoedas.
Some a isso um calendário carregado:
ISM de manufatura em patamares historicamente deprimidos, com nova leitura nesta semana;
Discurso de Jerome Powell em fórum importante de política monetária, com o mercado tentando extrair cada palavra como sinal de rota do Fed;
Ao longo de dezembro, ainda virão CPI, JOLTS, relatório de empregos e a última decisão do Fed no ano.
Em suma: quem esperava um dezembro calmo estava iludido. A volatilidade não é um evento de um dia; é um ambiente.
A guerra das narrativas: Tether, “Strategy” e o ciclo de FUD do fim de semana
Quando o preço cai, o mercado procura vilões. Neste fim de semana, dois alvos conhecidos voltaram ao centro do FUD: Tether e “Strategy” (a gigante listada que acumula Bitcoin em tesouraria e tem um negócio robusto de software corporativo).
1. Tether: reservas, política e o velho fantasma do colapso
Rumores em redes sociais reacenderam suspeitas sobre:
Composição das reservas;
Potenciais pressões políticas;
Risco de estresse em resgates.
Dirigentes da empresa foram às redes para rebater acusações de que a estrutura de reservas estaria exposta de forma a forçar venda de ativos não lastreados em Treasuries.
Os dados disponíveis indicam:
Aproximadamente três quartos dos ativos estão em títulos do Tesouro americano de curta duração;
Analistas costumam destacar que Tether, hoje, detém mais dívida pública americana do que muitas grandes companhias abertas.
Existem dúvidas legítimas sobre concentração e relevância sistêmica, mas a narrativa de “colapso iminente” não encontra respaldo consistente em informações transparentes. O que se viu foi, mais uma vez, manchetes e threads virais viajando mais rápido do que o contexto.
2. “Strategy”: dívidas, dividendos e a realidade do balanço
Outro alvo do pânico foi a empresa normalmente utilizada como proxy alavancado de Bitcoin na bolsa americana.
A tese alarmista que circulou era simples:
a combinação de dívida, vencimentos futuros e política de dividendos geraria uma pressão tão grande que a companhia seria obrigada a vender BTC de forma relevante, puxando o mercado para baixo.
Os dados corporativos, porém, contam outra história:
O cronograma de notas conversíveis mostra a maior parte dos vencimentos concentrada em 2028 e anos seguintes;
As obrigações ligadas a dividendos são recorrentes, mas pequenas em comparação ao conjunto da operação;
O núcleo do negócio – software corporativo – segue gerando caixa significativo, o que permite administrar compromissos financeiros mesmo em cenários de estresse moderado;
A tesouraria de Bitcoin, aos preços atuais, representa um colchão que supera em múltiplas vezes o montante da dívida.
Risco existe – especialmente em qualquer estrutura alavancada – mas a ideia de que a queda deste fim de semana seria resultado de vendas forçadas imediatas por parte da empresa não se sustenta quando se olha para o perfil de vencimentos e para o fluxo operacional.
Shakeout, não colapso: como ler este movimento
Colocando tudo na mesma lupa – liquidez fraca, fim de mês, choque macro japonês, calendário carregado e FUD coordenado em redes sociais – o desenho se parece muito mais com um stress test de curto prazo do que com o fim da tese de longo prazo do Bitcoin.
Pontos-chave dessa leitura:
A queda foi amplificada por liquidações mecânicas e recuo de market makers, não por uma capitulação estrutural de holders à vista;
O processo de transição no ciclo de política monetária global continua em andamento: o QT tende a ser reduzido de forma gradual, enquanto a inflação mostra sinais de arrefecimento;
Em ciclos anteriores, momentos em que indicadores de atividade como o ISM saíram do fundo, voltando a subir a partir de níveis deprimidos, frequentemente coincidiram com períodos em que o Bitcoin superou o desempenho de índices de ações.
Em outras palavras: a volatilidade atual é real, desconfortável e pode continuar. Mas, estruturalmente, nada quebrou na narrativa de longo prazo.
Para os degens: medo exagera riscos e abre janelas
Do ponto de vista do trader mais agressivo, o recado é direto:
Ciclos de medo tendem a superestimar riscos e comprimir horizontes de tempo;
Quando o mercado precifica como iminente um colapso que não é nem matematicamente nem operacionalmente provável no curto prazo, abre-se uma janela para quem consegue sobreviver à turbulência;
O desafio não é identificar que o pânico está exagerado, mas sim administrar tamanho de posição, alavancagem e horizonte de investimento para não ser liquidado antes que o mercado normalize.
A mensagem de fundo é de disciplina: preservar capital, evitar alavancagens irresponsáveis e usar a informação para diferenciar boato de dado concreto.
Spotlight: oportunidades em pontos e airdrops
No radar de “farmers” de pontos, um dos destaques recentes é a segunda temporada de mineração de pontos de uma grande plataforma de derivativos que prepara seu token para 2026.
De acordo com informações públicas:
22% do suprimento total de tokens está reservado para airdrop;
A Season 2, em andamento, concentra 12% do total, distribuídos aos usuários ativos;
Uma análise recente estimou, com base em um valor de mercado projetado em torno de US$ 540 milhões, que o custo médio por ponto hoje gira em cerca de US$ 4,37, com valor esperado por ponto na casa de US$ 25, o que implicaria múltiplo potencial de aproximadamente 5,7x em um cenário de referência;
O modelo de pontuação recompensa operações, depósitos e convites, com multiplicadores temporários que aumentam a eficiência para quem entra mais cedo.
Como sempre, trata-se de um jogo de risco: a relação entre custo de mineração, participação crescente de novos usuários e valor efetivo do token no lançamento pode alterar esses números substancialmente. Não é recomendação, e sim descrição de um ambiente onde a assimetria percebida atrai capital especulativo.
Conclusão global: sobreviver ao ruído para capturar o ciclo
O fim de semana deixou um recado claro:
Liquidez fraca, tensão macro e narrativas agressivas podem se combinar para produzir movimentos violentos em janelas muito curtas;
O mercado está testando a convicção dos participantes, mas não desmontou a estrutura de longo prazo do Bitcoin;
A trajetória até 2026 ainda aponta para condições mais favoráveis de liquidez e fluxos estruturais vindos de investidores institucionais.
A chave, para quem está posicionado em Bitcoin e em cripto em geral, continua sendo gestão de risco e horizonte de tempo. O ativo não vive das manchetes de um fim de semana, mas da inclinação da liquidez global ao longo do ciclo.
Seção Brasil – Mercado financeiro entre valor, juros altos e risco fiscal
O mercado brasileiro entrou em dezembro com um tom misto, combinando:
Ibovespa orbitando a faixa de 158 mil pontos, em movimento de recuperação técnica;
Um real mais fraco, em torno de R$ 5,34 por dólar;
Expectativas de Selic ainda elevada, com discurso firme das autoridades monetárias.
Projeções e revisões
Relatórios recentes indicam inflação projetada em 4,96% para 2025 e crescimento do PIB em 1,8%;
Trata-se de uma revisão negativa, refletindo os efeitos do aperto monetário prolongado e da desaceleração da atividade;
A dívida pública em trajetória ascendente, na faixa de R$ 8,5 a R$ 8,8 trilhões, mantém o prêmio de risco elevado e pressiona o câmbio.
Ibovespa, setores e estratégia
Casas como a XP revisaram o cenário base do Ibovespa para 185 mil pontos ao fim de 2026, o que implica potencial de alta em torno de 16% sobre os níveis atuais;
O fator “Valor” foi o destaque de 2025, beneficiando papéis de bancos e energia negociados a múltiplos comprimidos (P/L em torno de 9x);
Em contrapartida, ações de consumo discricionário e saúde sofreram: nomes como Natura e Hapvida acumulam quedas superiores a 30% no ano.
A atualização da composição do índice, com entrada de uma small cap resiliente e saída de outro ativo, reforça a tentativa de diversificação setorial para mitigar volatilidade em segmentos mais frágeis.
Juros, inflação e renda fixa
O discurso do diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, reafirmando que a Selic deve permanecer em terreno restritivo, frustra apostas em cortes mais rápidos em 2026;
Esse tom hawkish pressiona a curva de juros e encarece o custo de rolagem da dívida;
Ao mesmo tempo, produtos de renda fixa atrelados ao CDI e à inflação seguem oferecendo prêmios relevantes, com alguns títulos alcançando retornos superiores a 100% do CDI com liquidez diária.
A decisão da Aneel de reduzir a cobrança extra nas contas de luz para dezembro, migrando de bandeira vermelha para amarela, ajuda a aliviar pressões inflacionárias e beneficia varejo e utilities.
Percepção de risco e bolso do consumidor
Nas redes, cresce a percepção de perda de poder de compra:
Relatos de gasolina entre R$ 6,40 e R$ 8,59 o litro em São Paulo;
Cesta básica acumulando alta próxima de três dígitos em 2025.
Esses elementos reforçam o clima de cautela no consumo, mesmo em um cenário em que a bolsa mostra resiliência em papéis de valor e setores intensivos em dividendos.
Síntese Brasil
O quadro brasileiro combina:
Renda variável com viés positivo em ações de valor e energia;
Fiscal pressionado, câmbio depreciado e juros persistentes em patamar alto;
Consumidor fragilizado pela inflação de itens essenciais.
Para o investidor, o recado é de diversificação: uma combinação de renda fixa ainda bem remunerada com exposição seletiva a ações de valor e setores defensivos tende a se manter como estratégia dominante enquanto o fiscal não for claramente reancorado.
Seção Paraguai – Estabilidade macro e expansão gradual do mercado financeiro
No Paraguai, o fechamento de 2025 é marcado por um quadro que contrasta com boa parte da região:
Crescimento do PIB estimado em 4,5%;
Inflação controlada em torno de 4,1% ao ano;
Dívida pública próxima de 30% do PIB, uma das mais baixas da América do Sul;
Reservas internacionais na casa de US$ 10 bilhões, suficientes para vários meses de importações.
Notícias do dia
Combustíveis mais baratos e alívio no custo logístico
A estatal Petropar anunciou a 12ª redução de preços desde agosto de 2023, terceira queda consecutiva em menos de quatro meses. A redução acumulada é de 800 guaranis por litro em todos os produtos, com impacto estimado de economia de cerca de 50 bilhões de guaranis por ano para famílias e empresas.
O governo destaca o efeito direto sobre transporte, logística e cadeias ligadas ao agro – setor que responde por aproximadamente 25% do PIB.AFD expande crédito e sustenta empregos
A Agência de Financiamento para o Desenvolvimento (AFD) registrou operações aprovadas de US$ 334,7 milhões em outubro, alta de 55% frente ao ano anterior. Foram mais de 13,2 mil pessoas beneficiadas com crédito para produção e habitação, sustentando cerca de 98 mil postos de trabalho em agricultura, construção e serviços.
O dado reforça o papel do sistema financeiro de segundo piso na inclusão de pequenas e médias empresas, que representam a maioria do tecido produtivo.Política monetária estável e inflação rumo à meta
O Banco Central do Paraguai mantém a taxa básica em 6% ao ano, com inflação de 4,1% e núcleo em torno de 2,3%.
O IMAE (indicador de atividade) cresceu 6,7% em outubro, puxado por serviços, manufatura e agro, enquanto os preços de bens importados recuam cerca de 3%, o que ajuda a conter pressões inflacionárias.
A meta é convergir a inflação para cerca de 3,5% em meados de 2026.Mercado de capitais em desenvolvimento e riscos institucionais
O Ministério da Economia e Finanças captou aproximadamente US$ 39,6 milhões em leilão recente de bônus do Tesouro, recursos destinados a investimentos previstos no orçamento de 2025;
A Bolsa de Valores e Produtos de Assunção projeta volume de quase US$ 5 bilhões em 2025, ainda com participação estrangeira modesta (cerca de 5%);
Casos de corrupção no Judiciário envolvendo operações bancárias, como o episódio ligado ao Banco Atlas, acendem alerta sobre governança e confiança institucional.
Indicadores estruturais
Resumo dos principais números recentes:
PIB: crescimento estimado de 4,5%, acima da média histórica de 3,3% entre 2014 e 2023;
Inflação: 4,1%, em trajetória de queda em direção à meta de 3,5%;
Taxa básica: 6,0% ao ano, estável após cortes anteriores;
Deuda pública: ~30% do PIB, com parte relevante em moeda estrangeira;
Utilidades bancárias: alta de 9,7% até setembro, com ROE em torno de 13%;
Reservas internacionais: US$ 10 bilhões.
Fortalezas e desafios
Fortalezas
Disciplina fiscal e monetária, com trajetória de endividamento confortável;
Perspectivas de crescimento sustentadas por agro, energia e serviços;
Ambiente atrativo para investimento em energia renovável, florestas e projetos de infraestrutura, apoiados por organismos multilaterais e investidores estrangeiros.
Desafios
Forte dependência de commodities agropecuárias e da Hidrovia Paraguai–Paraná, sujeita a choques climáticos;
Mercado de capitais ainda raso, com liquidez limitada e baixa diversificação;
Episódios de corrupção e fragilidades institucionais que podem afetar a percepção de risco de longo prazo.
Síntese Paraguai
O Paraguai encerra 2025 como um dos casos de maior estabilidade macro da região, combinando:
Crescimento razoável;
Inflação sob controle;
Dívida moderada e reservas robustas.
O próximo passo para o país é aprofundar a diversificação da economia e do mercado de capitais, reduzindo a dependência do agro e fortalecendo mecanismos de governança e transparência – fatores essenciais para atrair capital de longo prazo em maior escala.
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